segunda-feira, 7 de março de 2011

A GEOPOLÍTICA DA REGIÃO DE BANGU - QUALIDADE DE VIDA

Da calmaria de ontem, ao bairro sitiado pela violência

É com bastante pesar, que os moradores do bairro há mais de trinta ou quarenta anos notam, agora, toda essa qualidade de vida se deteriorando a cada dia, e por simpatizarem com este bairro e conhecê-lo bastante e também os seus arredores, é que são o melhor ‘termômetro’, quando o assunto é a violência que sitia o bairro e tolhe os seus movimentos.

Além disso, por praticamente, conhecerem bem de perto os problemas sociais do lugar, que se iniciaram mais ou menos por volta de trinta anos, sendo que destes, de dez anos para cá a localidade tem se deteriorado ainda mais, devido a motivos variados a saber: nas cercanias da antiga estação ferroviária de Padre Miguel, com o tráfico de drogas intenso e incessante; nas demais estações da região, Guilherme da Silveira, tráfico de drogas e michetagem; Bangu, gangs de jovens violentos e meninos de rua; Realengo, com homossexuais e prostitutas que fazem ponto nas imediações dos quartéis e estação ferroviária; e Senador Camará, com meninos e meninas de rua que se dão ao desfrute em troca de esmola para a compra de cola de sapateiro.

É possível, se dispuser de algum tempo, observar as características primordiais de cada um desses sub-bairros da região, o que nos mostram de bom ou de ruim e a dura realidade em que vivem muitos de seus cidadãos, que em sua maioria, nem ao menos conhecem seus direitos.

Isso porque muitos moradores contam, que chegaram a usufruir da calma do bairro. Por várias vezes, era possível para eles, explorar os arredores semi-virgens do local, indo longe, às vezes em direção ao norte, onde ficavam as lagoas, no Gericinó, de onde só podiam ser expulsos se fosse pelos soldados do exército. Hoje neste lugar estão algumas ‘novas’ comunidades como o Jardim Bangu e o Catiri, e para visitar o Gericinó aconselha-se que se vá em grupos, pois tem muito vagabundo por lá à espreita de vítimas em potencial, meliantes estes, que em geral vêm de municípios vizinhos limítrofes, como Nilópolis e Nova Iguaçu, do outro lado do maciço.

Quando mudavam de direção, indo para sudoeste, passando pelos sítios daquela época, chegando, depois de atravessar muita mata, barro e pés de jamelão ultrapassava-se até o local onde hoje se encontra o centro do bairro, muitas das vezes alcançando o maciço da Pedra Branca, e o Morro do Sandá, mas mesmo naquela época, dizem, já era por demais perigoso avançar dali e perder o rumo de volta, uma vez que ainda eram locais muito selvagens e ali, antes da quase total extinção da mata, havia jaguatiricas, cachorros e porcos do mato, que ainda hoje de vez em quando aparece uns gambás e gatos do mato para comer galinhas criada em algumas casas e revirar o lixo dos moradores.

Educação, religião, lazer e Saúde

Em 1901 foi construída uma escola no Marco Seis, e em 1905, outra, sendo esta pela Fábrica, uma pequena escola para funcionários e os filhos destes, dirigida pela professora Angelina Belota Moreira. Em 1904, também construída pela Companhia, temos a primeira Igreja da região, na rua Estêvão, a Igreja de Santa Cecília e São Sebastião, hoje a Igreja de Santa Cecília se localiza próxima a rua Cônego de Vasconcelos, na Praça da Fé.

O primeiro cinema local foi o Ludovico Gregorowsky, construído em 1909, depois vieram o Vitória, o Hermidas e o Matilde, vale ressaltar que hoje em dia, em pleno século XXI, não temos mais nenhum cinema na região o que é um absurdo e uma tremenda falta de visão capitalista.

Em 1904 é fundado o clube de futebol do bairro, o Bangu Atlético Clube, em 1911 e 1914 o Bangu foi o campeão da Segunda divisão do futebol carioca. Em 1933 foi o primeiro campeão profissional de futebol do Rio de Janeiro, uma vez que as edições anteriores foram realizados pela Liga ainda amadora de futebol.

O Bangu só voltaria a ser campeão novamente em 1966, com um forte time formado pelo seu patrono Castor de Andrade, do qual falaremos mais adiante. Em 1947 inaugurou-se o seu estádio de futebol, o Estádio Proletário de Moça Bonita, construído também pela Companhia na localidade de Guilherme da Silveira, sub-bairro da região, em outro capítulo falaremos de detalhes do clube e da sua brilhante história razoavelmente recente.

A Companhia Industrial do Brasil também construiu o Hospital Guilherme da Silveira, em homenagem em vida, ainda, para esta figura destacada da sociedade banguense que se importava bastante com a saúde dos moradores, não era para menos, a grande maioria era empregado da fábrica e não era de bom grado que adoecessem e desfalcassem o numerário dos trabalhadores fabris.

Em 1903, há a criação de duas agremiações carnavalescas no local, a Flor da Lira e a Flor da União, ambas já extintas há muito tempo, mais foram a premissa para a vinda de escolas como a Unidos de Bangu, Unidos de Padre Miguel e finalmente (e não necessariamente nesta ordem) a Mocidade Independente de Padre Miguel, da qual também falaremos em outro capítulo mais detalhadamente.

A configuração atual do bairro conta com boa estrutura de saúde e educação, se estes serviços são de péssima qualidade, isto não se dá por falta de estrutura física ou material, pode ser pela política de saúde e educacional brasileira, que não leva em conta os vários e diferentes contextos em que se situam seus cidadão. Por exemplo, há na região a seguinte quantidade de escolas, segundo o Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro de 1995.

• Escolas Públicas e Particulares:

- Bangu => 55 escolas públicas e 39 escolas particulares;
- Padre Miguel => 23 escolas públicas e 14 escolas particulares;
- Realengo => 42 escolas públicas e 37 escolas particulares;
- Senador Camará => 20 escolas públicas e 15 escolas particulares;
- Total da Região => 245 estabelecimentos de esnsino.

Em relação aos estabelecimentos de saúde, segundo a mesma fonte temos os seguintes dados.
• Estabelecimentos de Saúde Públicos e Privados (computados juntos):

- Bangu => 18;
- Padre Miguel => 6;
- Realengo => 9;
- Senador Camará => 4;
- Total da Região => 37 estabelecimentos de saúde.

Para uma enorme população, como temos nesses bairros, poderíamos até achar insuficiente, mas quando observamos o exemplo de Cuba, onde há projetos de educação e saúde itinerante e voluntárias, como projetos de alfabetização de adultos e idosos de casa em casa e médicos e agentes de enfermagens que fariam uma espécie de consulta em domicílio, preventivamente.

Vemos que na verdade não nos falta espaço material e sim vontade política para resolver os gargalos, que se nos apresentam na saúde e educação brasileira.

Observe o gráfico a seguir e reflita sobre a condição de vida dos moradores destas áreas e perceba que deveras estamos abandonados à própria sorte e à mercê dos desmandos do banditismo, tendo sempre em mente que, enquanto não houver uma verdadeira política de erradicação da fome e da miséria, não serão raros os casos gritantes de famílias que vivem na mais absoluta pobreza nos grande centro urbanos e no nosso caso brasileiro, em especial, esta linha de miséria já está se expandindo para além das cidades:

Bairros/Quesitos:

Superfície ( Km ²)
- Bangu 45,35
- Senador Camará 16,28
- Padre Miguel 5,21
- Realengo 26,35

População (habitantes)
- Bangu 226.389
- Senador Camará 100.409
- Padre Miguel 62.287
- Realengo 172.433

Densidade demográfica (habitantes por Km2)
- Bangu 4.991,5
- Senador Camará 6.165,8
- Padre Miguel 11.956,9
- Realengo 6.543,7

Renda média mensal (sal. Mín.)
- Bangu 2,9
- Senador Camará 2,5
- Padre Miguel 2,7
- Realengo 3,1

Escolas Públicas
- Bangu 55
- Senador Camará 20
- Padre Miguel 23
- Realengo 42

Escolas Particulares
- Bangu 39
- Senador Camará 15
- Padre Miguel 14
- Realengo 37

Estabelecimentos de Saúde
- Bangu 18
- Senador Camará 4
- Padre Miguel 6
- Realengo 9

Praças e parques
- Bangu 94
- Senador Camará 33
- Padre Miguel 19
- Realengo 39

Favelas
- Bangu 25
- Senador Camará 9
- Padre Miguel 3
- Realengo 17

Linhas de ônibus
- Bangu 64
- Senador Camará 28
- Padre Miguel 56
- Realengo 61

Índice de alfabetização (%)
- Bangu 91,8
- Senador Camará 88,4
- Padre Miguel 92,2
- Realengo 93,3

Fonte: Atlas Geográfico da Cidade do Rio de Janeiro.
SME/SMU/Instituto Pereira Passos (com adaptação)

Precisamos, sim, de novas idéias, contrapostas a reafirmação desses antigos ideais.
O IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, tem por finalidade medir principalmente as condições de saúde e longevidade, o acesso ao conhecimento e aos recursos monetários de uma determinada população. Associado a ele também é analisado o ICV, Índice de Condições de Vida, que por sua vez mostra as condições habitacionais, acesso ao trabalho e o desenvolvimento infantil.

Em relação aos países do mundo em 2001, o Brasil alcançou 0,792 pontos, em posição intermediária na tabela de desenvolvimento, não ficando sequer na frente de países pobres da América Latina e mesmo de países da África, mas nesse caso a África do Sul, que é um país bem gerenciado, apesar de conflitos raciais velados.
A cidade do Rio de Janeiro ficou, meio que ‘assim...assim’, ocupando um até que honroso, 5º lugar no Brasil, com IDH de 0,766, atrás de Brasília em 4º, São Paulo em 3º, Curitiba em 2º e Porto Alegre em primeiro lugar, o que demonstra que ainda temos um longo caminho a trilhar em se tratando de qualidade de vida e direitos básicos do cidadão, a pesquisa desta vez, também abrangeu os bairros cariocas.

Observando a tabela abaixo podemos ter uma idéia de como vive as comunidades em derredor do bairro de Bangu, que estão, na maioria, em posição intermediária em relação aos demais bairros cariocas, está certo que não se tem aqui aberrações como na zona rural de Santa Cruz e em Acari, mas estamos, ainda, bastante abandonados pelo poder público, compare os dados:

Índice de Desenvolvimento Humano e
Qualidade de Vida (IDH E ICV) – Região de Bangu

Bangu Sul 0,702
Realengo Sul 0,700
Bangu Central 0,699
Padre Miguel 0,679
Realengo Norte 0,660
Vila Aliança 0,652
Senador Camará 0,650
Vila Kenedy 0,629

Fonte: IPEA e RDH - 2001 (Adaptado)

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