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domingo, 20 de julho de 2008
OS ÍNDICES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E CONDIÇÕES DE VIDA REVELANDO AS DISPARIDADES SÓCIO-ECONÔMICAS CARIOCAS E EM ESPECIAL NA REGIÃO DE BANGU
1 – Introdução – Rio de Janeiro, Características de uma Cidade Dúbia
Debater essa situação caótica que é corroborada pela atual realidade neo-liberal e excludente, evidenciando um problema comum na sociedade brasileira: o abismo econômico e as desigualdades sociais, que se refletem nos números do IDH e no crescimento de áreas miseráveis e conflagradas como na região em questão.
2 – IDH E ICV O QUE SÃO?
2-1. Posição do Brasil no IDH Mundial e o Ranking do IDH Brasileiro
O IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, tem por finalidade medir principalmente as condições de saúde e longevidade, o acesso ao conhecimento e aos recursos monetários de uma determinada população. Associado a ele também é analisado o ICV, Índice de Condições de Vida, que por sua vez mostra as condições habitacionais, acesso ao trabalho e ao desenvolvimento infantil .
Países – Em relação aos países do mundo em 2001, a Noruega teve o melhor resultado e Serra Leoa o pior, o Brasil alcançou 0,792 pontos, em posição intermediária na tabela, sequer ficando na frente de países de PIB inferior da América Latina.
Cidades – Entre as 12 grandes cidades (as com mais de um milhão de habitantes) o Rio de Janeiro ocupa o 5º lugar no Brasil, com IDH de 0,766, ficando atrás de Brasília (4º), São Paulo (3º), Curitiba (2º) e Porto Alegre (1º). Já no ICV o Rio ocupa a 4ª posição, perdendo só para as três mais ao sul, o que demonstra que ainda temos um longo caminho a trilhar em se tratando de qualidade de vida e direitos básicos do cidadão.
Bairros – A pesquisa, também abrangeu os bairros cariocas. No início de 2001, a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, o PNUD e o IPEA realizaram um mapeamento da condição de vida dos moradores cariocas, segundo fatores sociais e econômicos. Através do IDH e do ICV, inventariaram a riqueza e a pobreza carioca.
Os números do IDH mostram uma dramática diferença social, no topo da listagem estão: Lagoa em 1º, com 0,902; a Gávea em 2º com 0,896; Jardim Botânico em 3º, com 0,894; o Leblon em 4º, com 0,894 e a Barra da Tijuca em 5º, com 0,886. No inverso ficaram: Santa Cruz (rural) com apenas 0,558; Acari com 0,573; Complexo do Alemão com 0,587; Rocinha com 0,591 e Complexo da Maré com 0,597.
3 – O IDH na Região da Grande Bangu
3.1 – Condições de Vida Deterioradas pela Favelização
De certo não se tem por aqui aberrações como na zona rural de Santa Cruz e em Acari, onde as condições de vida estão mais deterioradas. As comunidades mais pobres e de maior incidência de miséria e criminalidade na região são: Vila Moretti; Morro do São Bento; Vila Aliança; Vila Kenedy; Selvinha; Catiri; Jardim Bangu; Vila Vintém; Sete/Sete; Tibagi; Nova Aliança; Coréia; Sapo; Sarapuí; Taquaral; Coqueiros; Alecrim e Conjunto Dom Jaime Câmara.
Índice de Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida (IDH e ICV) – Região da Grande Bangu
Bangu Sul 0,702
Bangu Central 0,699
Padre Miguel 0,679
Vila Aliança 0,652
Senador Camará 0,650
Vila Kenedy 0,629
Fonte: Prefeitura do Rio, IBGE, IPEA, PNUD e RDH - 2001 (Adaptado)
Desde o início do século XX, o Rio foi marcado pela tentativa de deslocar as mazelas sociais para longe do Centro e das áreas nobres (ALENCAR 1988) , a Reforma Passos e as outras que a sucederam tiveram como um de seus objetivos deslocar as favelas do centro da cidade para as áreas periféricas, são cerca de 40 na Grande Bangu.
Na década de setenta, foram construídos na região de Bangu, os conjuntos habitacionais, para abrigar a população das favelas em volta dos bairros nobres como: Flamengo, Leblon, Copacabana, Gávea, Leme... o que não resolveu o problema da alta sociedade, uma vez que a maioria dos moradores voltou. Também essa atitude ditatorial e truculenta do Estado foi responsável pela queda abissal da qualidade de vida da Microrregião da Grande Bangu, e da favelização do local.
Devemos ter em mente que durante as décadas de 1940 e 1950 Bangu era um dos bairros que mais cresciam economicamente na cidade, e um dos que mais atraíam a classe média e investimentos públicos e privados devido a pujança da fábrica de tecidos.
3.2 – Rede de água, drenagem, saneamento básico, meio ambiente, Lazer e Transportes
A maioria das ações de cunho político-social-cultural somente são observadas nas áreas centrais de Bangu, Padre Miguel e Jabour, conforme a problemática visível do local, como reforma de calçadões e praças e implantação de infra-estrutura urbana (reurbanização de ruas, troca de mobiliário urbano, arborização das vias públicas em torno do calçadão, lonas culturais, etc.) e saneamento básico para tentar evitar as enchentes recorrentes no Centro dos bairros.
Na periferia, os moradores reclamam da distribuição de água; das valas negras; da falta de pavimentação de estradas de terra; da falta de iluminação que favorece o aumento de ratos, de insetos e da violência; dos trabalhos mal feitos em época de eleições; da própria comunidade que desperdiça água e não deposita o lixo no local adequado. O problema do lixo é antigo na periferia, não há coleta seletiva e nem reciclagem. Outro problema local é a degradação ambiental, com a proliferação de loteamentos irregulares que resultam no desmatamento e deterioração do solo.
Há na região o abandono de áreas de lazer nos bairros por causa da violência, carência de linhas de ônibus diretas entre os subúrbios, de linhas telefônicas e a região também se ressente da falta de shoppings, livrarias, bibliotecas, teatros e cinemas. A promoção do lazer na região, consiste em otimizar espaços e atividades que já existem e implantar novas possibilidades.
3.3 – Estratificação Social; Público e privado no tecido institucional; Emprego e Renda Média dos Chefes de Família
As comunidades do entorno da região de Bangu, possuem nível social, cultural e econômico extremamente baixos, muitos moradores não conseguem completar sequer o Ensino Fundamental, sobrevivendo no subemprego ou no mercado informal, muitas vezes com menos de um salário mínimo mensal e o desemprego é elevado. Mesmo assim, existe a “classe média baixa”, os ‘ricos’ da localidade, que controlam o comércio local.
Entretanto, esses “ricos das periferias do bairro”, quando pensados em relação à estratificação da cidade, são “pobres”. Registram-se ainda inúmeras variações em relação a quem ocupa o estrato mais baixo da pirâmide. São as pessoas que andam descalças e ficam doentes sem atendimento, os desempregados, os favelados e os que ‘trabalham’ em funções rebaixadas do narcotráfico.
A presença do Estado é, na percepção de quem aí vive, imperceptível. No hiato dessa escassa presença pública, domina o poder dos agentes privados, em particular do narcotráfico. O tráfico é relevante no “mercado local” é muitas vezes o dinheiro do tráfico que sustenta o comércio. Segundo a Secretaria Municipal do Trabalho e a Escola Nacional de Estatística do IBGE, 55% dos jovens entre 15 e 24 anos que moram em favelas não estudam, não trabalham e já desistiram de procurar emprego.
Como não houve por muito tempo incentivo estatal para modificar esta realidade e mediante o abandono da área pelo Poder Público, o braço acolhedor que aparece, quando se precisa, é o do narcotráfico, que emprega como sentinelas, segurança, entregadores e endoladores. Mas muitos buscam o narcotráfico por status e as meninas são polarizadas devido a possibilidade de tornarem-se ‘rainhas’ da favela.
Observando as vielas sujas já se tem idéia da veracidade do ICV e do IDH, são pessoas miseráveis, jovens armados, meninas prostituídas e narcotraficantes. No rastro das drogas, veio a disputa pelo comércio, com embates de facções e assassinatos (SOUZA. 1988) . Acontece nestes guetos, fenômeno parecido com o da divisão da Alemanha na Guerra Fria, moradores de um local controlado por facção inimiga a de outro, perdem o contato com meus familiares.
Baixos salários, discriminação em razão do local de moradia e da aparência e a dificuldade para entrar no mercado formal são mencionados, como causa da pobreza na região. A média salarial da região é ínfima, 2,7 salários mínimos – cerca de mil e cem reais – não chegando a 1/5 da Barra da Tijuca ou Zona Sul.
Bairros / Quesitos
Bangu
Superfície ( Km ²) 45,35
População 226.389
Densidade demográfica 4.991,5
Renda mensal (sal. Mín.) 2,9
Escolas Públicas 55
Escolas Particulares 39
Estabelecimentos de Saúde 18
Praças e parques 94
Favelas 25
Linhas de ônibus 64
Índice de alfabetização 91,8
Senador Camará
Superfície ( Km ²) 16,28
População 100.409
Densidade demográfica 6.165,8
Renda mensal (sal. Mín.) 2,5
Escolas Públicas 20
Escolas Particulares 15
Estabelecimentos de Saúde 4
Praças e parques 33
Favelas 9
Linhas de ônibus 28
Índice de alfabetização 88,4
Padre Miguel
Superfície ( Km ²) 5,21
População 62.287
Densidade demográfica 11.956,9
Renda mensal (sal. Mín.) 2,7
Escolas Públicas 23
Escolas Particulares 14
Estabelecimentos de Saúde 6
Praças e parques 19
Favelas 3
Linhas de ônibus 56
Índice de alfabetização 92,2
Fonte: Atlas Geográfico da Cidade do Rio de Janeiro e SME/SMU/Instituto Pereira Passos – 2000
3.4 – Educação & Saúde: Índice de alfabetização e Estabelecimentos de Saúde
O acesso à “escola de qualidade” é visto como um item básico para ampliar as oportunidades, mas não assegura empregabilidade ou aumento de renda. Os moradores da região queixam-se da qualidade do ensino na escola pública em comparação com as privadas. Há na região quantidade suficiente de escolas para atender a demanda, mas são deficientes no Ensino Fundamental e Médio. Essa disparidade é resultado da “qualidade dos professores públicos e privados” e da carência de equipamentos como computadores e bibliotecas, além da própria falta de professores. Apesar disso a região de Bangu não está entre as piores do Rio de Janeiro em índice de alfabetização, com exceção da área de Senador Camará, com maior contigente de analfabetos, a média da região é de 90,8 % de alfabetizados, com idade acima de quinze anos.
Em relação a saúde nota-se na região que os hospitais públicos são insuficientes para atender a demanda e o atendimento ao cidadão é burocrático e de má qualidade. Junto com o saneamento deficiente o quesito saúde é um dos piores oferecidos pelo Governo na região. A percepção dos moradores da região não se baseia apenas nos números de hospitais e serviços médicos, mas pela dificuldade de acesso, pela falta de atendimento de emergência, pela excassez ou preços dos remédios, pelos maus tratos. Plano de saúde é um critério para caracterizar ricos, classe média e pobres na região. Não depender de hospitais públicos é sinal de boa qualidade de vida.
Recentemente foram implatadas na região as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), que ao serem testadas na prática durante a epidemia de dengue se mostrou pifiamente capacitada, beirando o fiasco. A população local reclama também que depois do advento das UPAs, os hospitais e postinhos da região passaram a negar atendimento para determinadas ocorrências encaminhando-os para as UPAs para serem também renegados nas mesmas. Conclusão, muitos não conseguem atendimento em nenhum lugar e têm que recorrer aos hospitais e clínicas particulares, onerando ainda mais seu sofrimento.
3.5 – Luz no Fim do Túnel
A Prefeitura do Rio em parceria com a União Européia, tem projetos para a revitalização de áreas esquecidas, como o Favela Bairro, o Programa Bairrinho e APD-RIO (Programa de Apoio as Populações Desfavorecidas). É importante ressaltar o lado social: implantar infra-estrutura mínima no local, rede de água, esgoto, hidrantes e drenagem e melhoramento paisagístico; empregam pessoas da localidade nas obras; capacitando moradores a desenvolverem pequenos negócios numa extraordinária retomada do espaço público (SANTOS apud CORRÊA. 1985).
A inauguração de um shopping center de grande porte recentemente no local da antiga fábrica de tecidos do bairro (refuncionalização urbana)promete trazer o desenvolvimento e incremento necessário ao comércio local, que vinha perdendo sua dinâmica. Mas a região como um todo carece de um pólo industrial e de serviços de terceira geração (informacional), sendo também necessária uma escola de ensino profissionalizante em nivel secundário de fácil acesso para a melhor capacitação da mão-de-obra local, o que diminuiria o atraso em relação às demais regiões do município.
4 – Conclusão
4.1 – Conhecer a Realidade e Aceitar os Desafios
A marcante característica ambígua do espaço urbano carioca, evidenciada em todos os bairros pela concentração da renda nas mãos de poucos, é responsável pela miséria de muitos, pela exclusão e pela violência que assola a sociedade. Enquanto alguns privilegiados estão vivendo com muito, parcela significativa da população sobrevive numa espécie de niismo, com quase nada.
Podemos analisar os dados do ICV e do IDH cientificamente, com naturalidade e neutralidade, mantendo-nos absortos nas questões que suscitam, para várias outras pesquisas, são motes com o qual sonham os geógrafos humanos ou os sociólogo, com interesse de simplesmente captar, mapear e absorver o máximo dos dados e conhecimentos dos fluxos humanos e das relações sociais por eles proporcionadas para futuras teses.
Não notamos intenção da maioria das organizações (governamentais ou não) e de muitos dos estudiosos envolvidos na questão, de sugerir soluções, segue-se à risca o dever de colaborar com dados, anotações, tabelas e quadros estatísticos frios e impessoais das pesquisas teorética e quantitativas como nos Estudos da Prefeitura e do IBGE e IPEA, que são estéreis, por apenas apontarem problemas e não sugerirem soluções viáveis, até mesmo o Programa de Combate a Pobreza, estudo da Prefeitura do Rio, que é simplório e demagógico, beirando o populismo.
Essa atitude parece-me em desacordo com a Geografia Crítica e com o contexto atual (MORAES. 1980) , pois é de nosso conhecimento alguns exemplos de praticidade em se tratando de soluções sociais, que vieram do nosso próprio meio e da ação de pessoas que não se contentavam somente em pesquisar, como foi o caso do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que tentou resolver o problema imediato da fome e dos outros que fazem parte dos números negativos do ICV e do IDH, deixando um legado para seguirmos.
5 – Referências Bibliográficas
ALENCAR. Francisco et all. História da Sociedade Brasileira, Ed. Livro Técnico, 1.988;
BRASIL. Rio de Janeiro, Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro, 1.997;
BRASIL. Rio de Janeiro, / SME / IPP. Atlas Escolar da Cidade do Rio de Janeiro, RJ. 2.000;
CASTRO. I.E, COSTA GOMES. P.C, LOBATO CORREIA. R. Geografia, conceitos e temas. Bertrand Brasil, RJ. 1.985;
CASTRO. I.E, COSTA GOMES. P.C, LOBATO CORRÊA. R. Brasil, questões atuais da reorganização do território. Bertrand Brasil, RJ. 1.988;
JORNAL. Extra. Editora Globo. RJ (várias edições de 2.000, 2.001 e 2.002);
JORNAL. Jornal do Brasil. RJ. Editora JB. (várias edições de 2.000 e 2.001);
JORNAL. O Dia. RJ. Editora O Dia. (várias edições de 2.001 e 2.002);
JORNAL. O Globo – Zona Oeste. RJ. Editora Globo. (várias edições de 2.002);
MORAES, Antonio Carlos R. Geografia: pequena história crítica. Hucitec, SP. 1.980;
PAES DE BARROS, Ricardo. Regional Disparities in Education Within Brazil: the Role of Quality of Education. IPEA, RJ.1.993;
REVISTA. Época. RJ. Editora Globo. vários números de 1.999 à 2.002;
REVISTA. Isto é. SP. Editora Três, vários números de 1.997 à 2.002;
REVISTA. Veja. SP. Editora Abril, vários números de 1.995 à 2.002;
SEABRA. O, CARVALHO. M, CORREIA LEITE. J. Território e sociedade, entrevista com Milton Santos. Bertrand Brasil, RJ. 1.985;
SOUZA, Marcelo José Lopes de. Geografia, conceitos e temas – O território: Sobre Espaço e Poder, Autonomia e Desenvolvimento, Bertrand Brasil, RJ. 1.988;
www.fgv.org.br.
www.ipea.org.br;
www.ibge.org.br/fibge/;
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www.prefeitura.rio.br/armazendedados/estudosdorio/planodecombateapobreza/;
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