O Trânsito: As Estradas da Violência
Segundo o Site do DNIT, o Brasil possui a segunda maior malha rodoviária do planeta, estando atrás somente dos Estados Unidos da América, que têm toda a sua sociedade voltada para o consumo e a modernidade industrial, sendo o carro um de seus ícones desenvolvimentista e capitalista. Em terra brasilis são mais de 1,8 milhões de quilômetros de estradas, sendo aproximadamente 10% deste total, asfaltadas e com ótimo estado de conservação, sendo assim, um convite aos pilotos, corredores amadores e rachadores. São mais de 1,2 bilhões de pessoas a viajar pelas nossas estradas todos os anos, não precisa ter bola de cristal para adivinhar o resultado de todos estes ingredientes: acidentes às pencas e mortes desnecessárias.
Observe o que diz o Site do órgão acima citado: “As estradas são como as veias que bombeiam o coração do Brasil. A magnitude desse negócio permitiu o crescimento de várias empresas, principalmente no setor de transportes.”
Concordamos que é necessário que se preserve as nossas estradas, pois como foi dito, elas, pelo seu bom estado, atraem investidores e dividendos para o país, que precisa deles. Também concordamos que a deseducação do povo mata mais do que qualquer outro sintoma nas estradas. Portanto, o governo deveria priorizar ainda mais o fator educação nessa equação, investindo em melhores propagandas, apesar das que veiculam na mídia serem bastante significativas, apropriadas para a nossa realidade e com apelo simples e direto.
Acidentes de trânsitos
Segundo o Detran (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem): “Acidente de trânsito é todo evento danoso que envolva o veículo, a via, o homem e/ou animais e para caracterizar-se, é necessário a presença de dois desses fatores. Existem dois tipos de acidentes: o evitável e o não evitável. O primeiro é aquele em que você deixou de fazer tudo que razoavelmente poderia ter feito para evitá-lo, enquanto o segundo é aquele em que se esgotando todas as medidas para impedi-lo, este veio a acontecer. Normalmente as pessoas perguntam quem é o culpado, onde a pergunta correta é quem poderia ter evitado o acidente.”
Uma das maiores causas dos acidentes chama-se condutor de veículo. Estatisticamente, 75% dos acidentes foram causados por falha humana (condutor), 12% por problemas nos veículos, 6% por deficiências das vias e 7% por causas diversas, ou seja, podemos dizer que o homem, no mínimo, é responsável, direta ou indiretamente, por 93% dos acidentes.
É notório no quadro abaixo um importante quesito fomentador de violência urbana, que também afeta o trânsito, a falta de punição, repare que o mês em que o Detran fluminense anotou mais multas, fevereiro, foi o de menor intensidade em se tratando de acidentes de trânsito, provando que a tolerância de pavio curto funciona. Naquele em que menos atuou com a caneta, o bloquinho e os pardais, dezembro, o número de acidentes foi o maior registrado no ano, conclusão: quanto mais punição, menos acidentes.
Ainda segundo o Detran, na atualidade, o Brasil participa com apenas 3,3% do número de veículos da frota mundial, mas é responsável por 5,5% dos acidentes com vítima fatal, registrados em todo mundo. Esses fatores podem estar associados a diversos outros ,como falta de conservação e sinalização das vias, falta de fiscalização, falta de manutenção do veículo, sono, cansaço, fadiga, animais e outros fatores.
Em 2001, foi feita uma pesquisa pelo Ibope, pesquisa essa pedida pelo Ministério dos Transportes, traçando o perfil dos caminhoneiros de carga pesada que circulam pelas estradas brasileiras. Como já era de se esperar o resultado foi o mais natural em termos de Brasil, a saber: os caminhoneiros não cuidam de seus carros, nem de sua saúde e as empresas contratantes não estão nem um pouco incomodadas com isso. Veja o resultado:
Do total de caminhoneiros que trabalham no Brasil:
- 60 % não fazem revisão do veículo em oficina especializada;
- 50 % trabalham mais de sessenta horas ao volante por semana;
- 30 % disseram que dormem menos do que o necessário;
- 20 % dirigem mais de seis horas sem nenhuma parada para descanso;
- 20 % sofrem com problemas de coluna;
- 10 % têm problemas de visão.
Fonte: Revista Veja / Ibope - 2001 -
Todos estes transtornos causados pelos carros, seu mau uso e pelo trânsito selvagem e predador, seriam diluídos rapidamente se os motoristas fossem educados e conseqüentemente, menos imprudentes no trânsito, o número de acidentes e multas tenderia a se tornar bem menores do que temos no momento e muitas famílias não precisariam lamentar a invalidez ou até mesmo a morte de entes queridos. Ficaríamos dependendo apenas dos nossos governantes para melhorarem as nossas estradas.
Ainda falando dos efeitos deletérios do trânsito, mas agora segundo pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que realizaram uma séria pesquisa relacionando os níveis de ruídos com o stress, levando-se em conta todo tipo de atividade urbana moderna, festas e bailes, fábricas, escritórios, trabalhos na rua como da construção civil e o trânsito, a simples exposição ao ruído de trânsito nos engarrafamentos cotidianos, causam danos no sistema imunológico, isso sem falar da exposição diária aos assaltos e todo tipo de atos violentos, que o trânsito, ou o engarrafamento podem causar, principalmente entre os próprios motoristas já bastante estressados com as atribulações próprias do dia-a-dia.
Observando o quadro do American Healt, órgão do governo federal norte americano que cuida do bom andamento do seu sistema de saúde e de pesquisas afins, tendo em mente que o berço da indústria de automóveis é norte americano, e portanto ninguém defenderia mais essas máquinas do que eles, daí podermos crer na insuspeita dessa pesquisa:
Poluição Sonora - Nível de Ruído Em Decibéis
Estacionamento perto de Avenida: 75
Restaurante lotado: 88
Filme de Ação: 90
Aula de Aeróbica: 98
Metrô:100
Fonte: Universidade De Yale (EUA) e American Healt
Além de tudo isso, os carros ultimamente também tem provocado outro tipo de aborrecimento e violência urbana, com os ‘pegas’ ou ‘rachas’, como quiserem. Essa forma sadomasoquista de se divertir está ceifando a vida de vários jovens no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Por tudo isso, que reiteramos, ser o carro uma verdadeira máquina do diabo, que tem servido nos dias de hoje como uma escola de violência em potencial. Como diz acertadamente o arquiteto que reformulou Barcelona, Bohigas, “o carro deveria ser banido das ruas!”
Carro: A máquina do diabo?
Não discutiremos a utilidade do carro, pois esta, todos nós sabemos bem, nada feito pelo homem do nosso remoto foi de tamanha importância quanto o advento da roda e a utilização da combustão ao seu favor, daí para a invenção do carro foi só um passo adiante, mas hoje o carro mais atrapalha do que ajuda e veremos o porquê.
Os automóveis, pela invasão dos logradouros públicos, dificultando a interação social urbana, pela presença física, ocupando calçadas e como nos estacionamentos onde não se respeitam vagas de deficientes, pelo excessivo ruído produzido, pelo efeito nefasto ambiental, visual, social e econômico e pelos acidentes, pode ser considerado mais uma das diversas escolas de violência, pois também neles aprendemos muitas lições de insanidades e distúrbios de personalidade. O motorista, seja no perímetro urbano, ou nas auto-estradas, parece perder a noção de sua estrutura física, esquece que é de carne e ossos, e age como se fosse um aríete, ou como uma espécie de misto de suicida com homicida potencial, de maneira que seu carro de veículo útil, se transforma numa espécie de bólido, um panzer, a serviço da violência, atropelando e colidindo a ‘três por quatro’.
Além disso, os carros, visualmente enfeiam a paisagem, sujam as águas e o ar, provocam discriminação social entre os que o possuem e os que não, inviabilizam ao transporte público, gastam milhões de reais nos engarrafamentos com perda de tempo e de combustível que são literalmente queimados e por fim produzem uma infinidade de reações adversas no organismo, vendo por esta ótica os neo-urbanistas têm razão em pensar em diminuir a quantidade de carros nas ruas.
Concluindo
A cultura rodoviária brasileira, assimilada, como quase tudo por aqui, dos modelos inviáveis de consumo norte-americanos vem dando mostras de sua exaustão. A falta de educação e civilidade dos motoristas e pedestres tem contribuído ainda mais para aumentar a violência nas áreas urbanas e nas estradas interurbanas. Com isso, os acidentes automotivos já são a principal causa de óbitos em muitas das regiões metropolitanas brasileiras, e sendo a maior entre os acidentes de todo tipo, e tem gente que tem medo de avião e navio. Por aniquilarem tanto quanto as armas de fogo e repassarem a cultura da emulação os carros e o sistema de trânsito urbano e interurbano são uma das mais eficientes escolas da violência nos tempos modernos.
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