domingo, 30 de novembro de 2008

A VIDA É UM INFERNO NUMA SOCIEDADE METONÍMICA, METAFÓRICA E EUFÊMICA COMO A NOSSA SOCIEDADE CARIOCA 1

A SOCIEDADE METONÍMICA

Vivemos um dilema no mundo atual, porque a vida perdeu o seu sentido mais sagrado e passou a ser apenas um simples hiato entre nascer e morrer. Por que digo isso? Ora, basta ver nos noticiários a quantidade de vidas perdidas ou desperdiçadas para se ter uma idéia de que vive hoje é algo automático, sem sentido.

Sinceramente, quem é que se preocupa com o outro ser vivo (humano ou animal) que passa fome, frio ou medo? Quem pára para socorrer alguém sem medo de ser uma armadilha? Quem em sã consciência acolhe alguém em sua casa sem temer algo pior? Quem tem empatia e sofre junto com quem sofre?

Isso ocorre porque vivemos em uma sociedade metonímica, metafórica e eufêmica. Explico: quando algo anda ruim em algum setor da sociedade, temos a noção, errada, de que é um fato comum. Por exemplo, a polícia, a saúde e a educação são corruptas, violentas e ineficientes? Na verdade é isso ou há poucos bons policiais, médicos e professores e por isso achamos que todos estão perdidos e usamos o todo pela parte, quando na verdade deveríamos investir nesses poucos e usá-los a partir de já como escola e padrão?

Nessa sociedade metonímica, o que é bom se perde diluído no mar de má vontade e de má gestão. Exemplos? Certa vez, quando trabalhava na ferrovia, a falta de trens em determinado ramal da Supervia ocasionou uma revolta generalizada. E onde me encontrava os passageiros começaram um quebra-quebra, quando se aproximavam para linchar a mim, que era o cabineiro de plantão, os bilheteiros e o agente da estação, fomos salvos por um policial militar de nome Valdenir que se postou em frente da cabina e deu apenas um tiro para o alto, o que fez a população recuar, e com isso controlou, sozinho, a situação até a chegada do reforço policial. Mas quando falamos de policia dizemos que é corrupta e ineficaz. Sem falar dos bombeiros, que salvam milhares de vidas por aí, mas hoje são lembrados mais por que formam milícias do que pelos bons serviços prestados.

Na educação acontece algo similar. Uma professorinha lá em Sobral, Ceará, alfabetiza de maneira exemplar crianças com carência alimentar contradizendo o que diz a ciência que criança desnutrida não aprende. Outras mais no país andam fazendo milagre com um salário de fome. Na verdade desnutridos estão os professores, devido a má formação acadêmica. Porém, quando falamos de educação achamos que a culpa do que está aí é do professor. Sou professor de Geografia e convivo com a triste realidade de os alunos chegarem ao segundo grau (Ensino Médio), praticamente analfabetos na minha disciplina. Não me espanto porque tem muito professor por aí com as mesmas carências. Mas o que vejo na maioria das escolas que passei são pessoas abdicadas e que procuram improvisações para debelar os problemas cotidianos.

Na saúde, não é muito diferente. Nas diversas de unidades hospitalares que existem no território nacional, há exemplos, pontuais, de profissionais de saúde que fazem o possível e o impossível para conseguir desempenhar seu dever da melhor maneira. Quando há condições mínimas de trabalho eles conseguem dar conta, porém, geralmente falta o mínimo necessário, e em saúde, ao contrário de educação, não acontecem milagres, se alguém precisa de um determinado remédio e esse não aparece, a pessoa morre. Mas quando falamos de saúde, dizemos que é um caos porque ninguém quer nada (não é mesmo governador Cabralzinho?), pegamos o todo pela parte ou vice-versa quase sempre.

No próximo post, a sociedade metafórica.

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